Sim, ele chegou. Veio montado numa tartaruga, mas chegou! Um misto de alívio e saudades toma conta de mim nesse momento. Meu bebê está deixando de ser bebê…
Amamentar para mim foi uma questão de honra e o cumprimento de uma promessa que fiz a minha filha quando ela ainda tinha poucos dias de vida.
Não! Não foi nada tão natural como parecia. Acho que passei por todas as dificuldades que uma mulher pode ter na amamentação. Amamentei quase um mês com meu peito na carne viva e levei mais 2 meses para parar completamente de sentir dor. E não fiz isso porque sou forte, fiz por amor, um amor incondicional. Nem sei de onde tirei forças…
Com 4 dias de vida, minha filha teve icterícia e tivemos que interná-la. Todos os bebês ficavam quietinhos e calados tomando o banho de luz. Só a minha filha que esgoelava o dia e a noite toda. Eu cheguei a achar que ela chorava de fome (acontece nas melhores famílias. Kkkk….). Como meu peito estava muito machucado, ficava “mendigando” fórmula infantil no berçário e na maioria das vezes o que eu ouvia era um NÃO bem redondo. Eu saia irada! Minha vontade era de rasgar todas aquelas propagandas do Ministério da Saúde com aquelas mães amamentando com cara de feliz e metralhar todas as funcionárias daquele lugar!
Juntaram as dores do pós-parto, com o peito ferido, o baby-blues (uma espécie de mini depressão pós-parto) e minha filha internada e chorando compulsivamente. Achei que ia pirar! Foi nesse momento que descobri que o leite do meu peito era só um detalhe. Minha filha precisava era do meu peito para se acalmar. Ela precisava se sentir segura, ouvir meu coração, sentir o meu calor, e não tinha chupeta nem mamadeira que resolvia esse problema.
Tudo que eu queria era dar todo o colo que ela necessitava, e apesar da dor, eu preferia amamentá-la 24hs a vê-la chorar, mas eu não podia… Tinha que ficar assistindo aquela cena sem tirá-la da mira da luz. Ela só podia sair pra mamar e pra tomar banho, e quanto menos ficasse na luz, mais tempo ficaria internada. Era uma ordem médica.
Eu passava o dia e a noite toda fazendo carinho, conversando com ela, segurando na mão dela e claro, chorando junto. Foram os piores 3 dias da minha vida! Teve uma noite que ela chorava tanto, que me encolhi toda debaixo das luzes da fototerapia, coloquei ela no peito e passei a noite inteira empenada, me equilibrando e suando horrores debaixo daquela coisa quente, só pra não vê-la mais chorar… E foi ali que prometi a mim e a ela que amor, colo e peito nunca iriam faltar.
Não foi fácil, mas eu cumpri a promessa! Não era só pelo leite. Minha filha me fez de chupeta por 2 anos e meio e eu fingi que não tinha percebido. Mamou em livre demanda o dia todo e a noite inteira também. Ficou viciada em mamar e eu em amamentar. Mamava 20, 30 vezes por dia e eu deixava. Até hoje não sei dizer de essa decisão foi uma tacada de mestre ou se foi o maior erro que cometi na maternagem. Só sei que segui meu coração.
Aprendi a lidar com a dor, aprendi a ordenhar o leite para poder trabalhar, aprendi a lidar com o cansaço, a viver sem dormir, a viver com a cabeça no mundo da lua. Aprendi a fazer de tudo com uma criança pendurada no peito, perdi a vergonha, virei uma índia, virei leoa, virei zumbi. Aprendi que se queremos mesmo amamentar, temos que vencer tudo isso e que depois que a coisa começa a ficar prazerosa, você tem que aprender a lidar com as críticas, com a opinião alheia, com o preconceito de amamentar uma criança grande e com a pressão para desmamá-la.
E a pressão não é só dos outros. É nossa também. Chega uma hora que a gente cansa. O fato de você gostar de amamentar, não significa que isso seja bom o tempo todo. Em alguns momentos, tudo que eu queria é não estar amamentando.
E sabe o que eu fazia nesses momentos? Conversava com minhas avós que amamentavam 2, 3 filhos de uma vez, entrava em grupos virtuais de apoio à amamentação e lia vários depoimentos, agradecia a Deus por ter me dado leite e força, observava minha filha adormecendo no meu peito com aquele sorrisinho no cantinho boca, estudava sobre a importância da amamentação, escrevia textos sobre esse assunto para o “Alice no País das Comidinhas”. Era assim que eu recarregava minhas energias.
Foi um processo difícil em alguns momentos, mas extremamente prazeroso na maioria deles!!! Como era bom ver minha filha crescendo saudável e saber que o principal alimento dela saia de dentro de mim. Como era bom ver o amor explodindo dentro de mim em forma de leite também!
Os melhores momentos que vivi na minha vida não foram viajando, comendo e nem comprando nada… Foram amamentando! Só eu e ela, nas caladas da noite, grudadas uma na outra, trocando olhares e passando segurança uma pra outra, a despeito de todo o cansaço.
Apesar de ter me sentido tentada com vários métodos de desmame, fico feliz de conseguido chegar até aqui de forma respeitosa, esperando o nosso momento, sem quebrar essa cumplicidade linda que construímos ao longo desses 2 anos e meio.
Sim, estou aliviada nesse momento, mas sem dúvidas minhas saudades serão eternas.
Ahhh… E quanto às enfermeiras do berçário da maternidade Santa Fé, meus sinceros agradecimentos. Vocês foram muito importantes para que essa história de amor acontecesse. Ainda bem que aqui no Brasil o porte de armas é ilegal. Rsrsrs…
Nutricionista pediátrica e terapeuta alimentar. Fundadora do Alice no país das comidinhas, uma clínica pediátrica que reúne diversas especialidades da saúde totalmente preparadas para tratar as questões alimentares inerentes à infância.